domingo, maio 30

Amanhã.

Hoje entendo o que falhou em nós.
É que, quando foste embora, esqueceste-te de fazer as malas. Deixaste a casa desarrumada. E são - foram! tenho que aprender a conjugar-te no passado, de vez - as tuas coisas que andaram por aí espalhadas em mim. Só que tu soubeste fazer as coisas. Não fizeste as malas mas levaste a pá e a vassoura. Mas o que se passa afinal? Não querias que eu te soubesse limpar?
Fizeste as coisas de tal forma que eu não conseguia sequer distinguir o que era meu, daquilo que era teu, daquilo que deixaste em mim. O que era eu, e o que eras tu[?].
Acho que tinha os sentidos congelados. Ou terão sido os sentimentos?
Mas agora veio o calor e não há gelo que resista. Nem bela adormecida que durma para sempre. 
Amanhã vou fazer a mala que não levaste. Mas amanhã. Só amanhã.
Hoje estou cansada.
Amanhã faço as tuas malas, deito o lixo fora, arrumo e limpo[-me]. [Re]decoro[-me] tudo se for preciso. Amanhã ponho-te fora [de mim] e mudo as fechaduras. Aprendo a viver sem ti.
Mas amanhã. Só amanhã.
Amanhã, talvez.



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domingo, maio 23

Encontrando[-me]... [2]

"Começou numa pequena noz de dor bem no meu intimo, mas esta foi crescendo cada vez mais até se transformar numa sufocante bola de sofrimento. Ela tinha morrido. Nunca mais voltaria a vê-la. Nunca mais voltaria a falar com ela. Nunca mais iria pegar-lhe na mão e chamar-lhe preguiçosa pateta. Nem senti-la a puxar-me os cabelos e ouvi-la dizer-me para parar de ser uma chata com cara de poucos amigos. Nem ficar apenas sentada com ela a ver televisão. Derramei a primeira vaga de lágrimas. Ela tinha-me abandonado. Eu tinha-a deixado, mas ela tinha-me abandonado a mim para sempre. A minha melhor amiga tinha morrido.
O meu corpo balançou-se novamente quando as lágrimas caíram numa nova torrente. Eu queria chorar assim desabar e ir-me abaixo."





 Peço todos os dias que voltes... que ocupes a cadeira que ficou vazia, a meu lado. Que venhas e me abraces... Que venhas e me digas que estou errada.. que as coisas não são assim. 
Que com o teu tom doce e meigo me digas que vai haver sempre alguém pela vida fora que terá a capacidade de me magoar, directa ou indirectamente. Que acontecerá sempre algo e que a vida não é a perfeição que conhecemos nos contos de fadas.
Mas, agora, queria que viesses e te sentasses na mesa, em frente a minha... voltando ao nosso tempo perfeito. Perdoa-me.
Perdoa-me pelas tantas vezes que rejeitei a tua mão quando, sempre disponível, ma estendeste, disposta a ajudar-me a erguer novamente. Pelas tantas vezes que não te soube reconhecer ao meu lado.
Dizem que quando perdemos alguém, reconhecemos sempre a sua importância na nossa vida. Reconhecemos o seu verdadeiro valor. E eu hoje reconheço-o. Perdoa-me por não o ter feito no tempo devido... por, principalmente, nem sempre te ter dito que gostava de ti. Nem sempre o ter demonstrado, escondendo-me por trás da máscara da indiferença, da frieza. 
Máscaras. 
Foste tu que me ensinaste o que elas significavam... E foste tu que me disseste que a minha era a da segurança. Segurança que não tinha. Que perdi.
E perdi-te a ti.
Perdi-te.



Palavras para quê?
Fazes-me falta...

terça-feira, maio 11

Teorias

Apetece-me chorar, gritar.
Ainda há alguns minutos atrás estava eléctrica, cheia de energia.
Foi uma descompressão, diria ele.
Ele...
Esse mesmo que causou esta inconstância em mim. Esse mesmo que tinha teorias para tudo... mas esse mesmo que se esqueceu e fez 'delete' da nossa teoria. Como se tudo fosse apenas um rascunho. E talvez não tenha passado realmente disso. Porque, realmente, a história não passou da meia página. Foi feita a lápis. E, o pior, é que foi ele quem ficou com a borracha.
Apagou-a.
Apagou a nossa e criou outra história... outras histórias... com novas personagens e novos enlaces...
E eu fiquei sentada no [col]chão, na pedra fria, no banco de jardim onde ele me deixou antes de partir.
Tudo não passam de teorias e eu tirei zero nesse exame. Ele era exigente e eu uma cabeça no ar, a viver no mundo dos sonhos, num conto de fadas que nem dei conta que existia. Julgava-me cinderela sem sapatos... e por isso caí da escada. Tropecei. Caí. E fiquei no chão. Mas ele não foi atrás de mim, não correu. Não me salvou. Ele simplesmente seguiu em frente e eu fiquei ali, de joelhos cortados [ou coração rasgado?]...
Mas tudo não passam de teorias...
E na teoria da vida não há espaços para 'se' nem porquê.
E, a única certeza que hoje tenho, é que tudo na minha vida não passa de um talvez.
Porém, tudo são apenas teorias...



[09-05-2010]

terça-feira, maio 4

Coração de porcelana [1]

Um dia alguém disse "Não te deixarei cair. Não te deixarei tocar no chão"
Lembras-te?

Queria aquele cantinho onde essa foto foi tirada.. onde aqueles sorrisos foram oferecidos e as gargalhadas soltas.. na pura inocência da nossa felicidade e vidas "perfeitas". Aqueles abraços apertados e as mãos dadas. Queria-te aqui agora para me dizeres, com a sinceridade que mais ninguém sabe, aquilo que realmente sou.. aquilo que realmente valho.
Disseste-me que a universidade seria um verdadeiro teste a minha personalidade e se eu o superasse, era porque eu era realmente a pessoa que conheceste. Não sei em que ponto desse teste vou nem qual a minha pontuação. Mas sei o quanto por vezes me custa estar aqui.
Esta é a minha cidade e tenho aqui Grandes Pessoas, é verdade. Porém, também há aqueles dias em que só queria as minhas pessoas de sempre, capazes de ler o meu olhar e interpretar os meus sorrisos. Capazes de saber quando os meus silêncios me denunciam.. e perceber quando as lágrimas estão a querer mostrar-se.
Porque a ti, minha pequenina, um dia dediquei-te aquela frase.. porque a ti pedi-te, quase num sussurro que nunca deixasses cair as pontes entre nós. E só para ti me recusei escrever no dia em que sabíamos que os nossos caminhos começavam a ser paralelos.. no dia em que sabíamos que viria a mudança. Contudo, também foi nesse dia que soubemos que se fossemos capazes de manter as nossas linhas cruzadas, sem desatar as nossas fitas, então seríamos também capazes de mandar no nosso destino e fazer a nossa história.
A ti, querida, tenho pavor de desiludir. Mas sei que, mesmo que isso aconteça, a ti não te irei perder.
Tu não és só mais uma. Tu és especial.

Hoje, só queria um abraço.. sem perguntas, sem palavras. Só o abraço e o silêncio. Aquele que tantas vezes me fez desabar e deixar o mar rebentar. Mas tu não estás aqui. E eras tu quem eu mais queria agora.
É que as desilusões são como o rebentar das ondas num dia de tempestade.. quando vem, vem todas de uma só vez!
É que as pessoas são areia que se esvai por entre os dedos. E quando damos por nós, sentimo-nos de mãos vazias.. E vemos no ar um balão, que se afasta de nós por mais que o tentemos alcançar.
É que hoje não quero dar explicações.. Hoje só queria sentar-me no chão, com o nosso silêncio e desabar. Saber que teria alguém a meu lado capaz de me compreender, mesmo sem palavras. E sei que te tinha. Porque tu adivinhavas sempre.
Contudo, aqui não tenho. Não tenho ninguém capaz de adivinhar quando preciso de um abraço ou de perceber quando preciso de falar. Aqui, ninguém me sabe ler. Aqui...
Aqui sou eu, no meu eu mais natural, espontâneo e sincero. E talvez seja por isso que aqui ninguém me sabe ler.
 Sabes, talvez seja eu que tive nota negativa no teste que me falaste. Se calhar preciso de estudar mais...
Acho que vou a exame.
E sabes, meu bem? Sei que quando chegar ao final, terei boa nota. E, espero que sejas tu a dar-me o abraço que hoje me falta e a dizer-me que consegui a Licenciatura da Vida.


[Hoje fazes-me falta.]