sexta-feira, dezembro 25

O [na]tal.






Quero o meu natal de volta, dizia eu há alguns dias atrás. Disse-o até hoje. [E ainda hoje o digo]




O meu natal era aquele natal de felicidade pura, onde dávamos o melhor de nós, sem esperar receber. Onde o que se dava eram mais que presentes. Cada presente dado era pensado ao pormenor. Era um natal mágico. Não havia consumismo... havia alegria e simplicidade. Havia o desejo de ver um sorriso de surpresa, uma lágrima no canto do olho... a felicidade.

Mesmo que só por instantes...

Mas esse natal fugiu. Foi fugindo aos poucos... Para mim, o natal tornou-se consumista. Em que se enfeitam as casas e se faz uma árvore só para mostrar e não com o verdadeiro espírito que a época espera.
Perdeu-se a magia de ir numa carrinha, ao frio, ao pinhal mais próximo só para buscar musgo para fazer o presépio em casa da avó. Presépio sempre grande, feito sempre a mais que duas mãos. Feito ao som de risos e gargalhadas. Era a alegria no seu estado mais puro. Em que, na árvore, cada enfeite era um desejo. Cada estrela, um membro da família. [Onde estão essas estrelas?]
O natal perdeu-se.
E, com ele, a vontade de o viver.
Tão simples quanto isso! [Simples?]
Acho que preferia voltar a infância e acreditar que o pai natal existia e que viria trazer os presentes e mudar o mundo.
O pai natal de antes castigava. Se nos portávamos mal, as prendas não vinham. Para elas virem tínhamos de as merecer.
Agora, já ninguém acredita no pai natal e as prendas aparecem sempre.
Por isso deixei de as dar.
Este ano não dei prendas a ninguém. Quando as dava, fazia-as eu. Contudo, havia sempre as outra, dadas por 'alguéns', compradas numa qualquer loja, que se tornavam mais especiais e com mais valor. E eu sempre fui ensinada a acreditar que as coisas feitas por nós tem mais valor... tornam-se diferentes. [Fui ensinada a acreditar em tanta coisa...]
Deixei de as fazer. Comecei a comprar. Eram as poupanças de um ano investidas em meia dúzia de meios sorrisos. Mas o sentido não era o mesmo. E o natal deixou de ser natal.
E este ano não dei.
Recebi muito (mais do que devia e merecia até), mas não dei. Não dei presentes. Dei o presente, o agora... e, nele, um sorriso.

Talvez um dia, quando volte a ser natal, eu volte a dar alguma coisa. Por agora, é o que tenho.
Lá fora [cá dentro?] chove... e para mim não é natal.






[24.12.09
04h31]

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