domingo, agosto 1

Val[idades]

[ #7 LETTER     #15 LETTER      #20 LETTER     #28 LETTER ]
 

Nos últimos anos tenho vindo a aperceber-me da matéria que verdadeiramente o mundo é feito. Tudo tem prazo de validade. Até as pessoas.
É assustador pensar assim, mas é verdade.
Temos (ou somos?) a validade de umas férias de verão.. de alguns dias de aventuras.. de um ano de aulas.. Temos a val[idade] que nos dão. Depois, reduzem-nos a lixo. A va[l]idade acaba e já não prestamos mais. Somos deixados de lado.. atirados para um canto qualquer à espera que alguém venha e resgate a nossa val[idade]. Que vá a uma loja e nos compre (às vezes, infelizmente, apenas porque somos mesmo o produto mais barato..) e nos guarde.. até que a [val]idade expire [e nos deixemos de respirar!]...
Vamos à loja e pedimos o produto mais barato e com o menor prazo de validade possível.. para que se estrague depressa e não dê muito trabalho. É que assim dói menos. Se o prazo for muito longo, criam-se laços.. e, as fitas de seda, quando desatadas, rasgam a alma. Destroem-nos. Deixam-nos em cacos. Em pior estado que uma boneca de porcelana quando parte, mesmo que tenha sido atirada de um 30º andar com toda a violência e caia, cá em baixo, com uma brutalidade tal que não sobre mais nada para além de pó. Sim, é pior ainda. De nós, nem o pó resta para contar a história.
É curioso este mundo onde se consomem drogas [drogas não menina, é um nome feio! Isto são apenas estimulantes, sabe como é.. dizem uns] .. se ingere álcool como se fosse água [para não desidratar, dizem outros] .. e tudo é normal, aceitável e compreensível. Mas falamos em pessoas.. e tudo ganha um prazo de validade.
Penso que, a primeira pergunta que devemos então fazer alguém quando a conhecemos, não é o seu nome, a sua idade nem os seus sonhos. É sim, qual é o seu prazo de validade. É que, se for pouquinho, ao menos sabemos que não nos podemos armar em principezinhos e sonhar com raposas e rosas.
Andamos, constantemente, a ajustar os nossos prazos de validade aos das outras pessoas.. e, por vezes, a fazê-las ajustar-se aos nossos. "É a vida, menina. É a vida!" .. Oh, se é! Mas sabes, eu sempre soube que tinhas um prazo de validade. Sempre soube quando ia acabar. E digo-te mais.. "um dia pode saber a uma vida, se for vivido como nós o vivemos!"







 Não podíamos, simplesmente, ter validade vitalícia? 
Não poderias, tu, conceder-ma?

3 comentários:

paula disse...

Não. Nós e todas as coisas devem ter um prazo de validade pela simples de razão de que se assim não fosse a vida seria demasiado facil e tudo o que tinhamos era dado garantido. A vida deve ter muitas voltas reviravoltas e fins com pontos finais e virgulas (:

Anónimo disse...

Quase choro neste momento...
Porque não podia ser "Para Sempre"???
Aliás porque não foi quando me promete[ste]*[ram] uma auto-estrada sem vim, sempre com alguém na faixa à direita...
Porque é que aquele banco de jardim não foi eterno?
Porque é que aquele abraço debaixo duma capa negra se desfez?

Porque raio não me dão prazos maiores e sem fim?!?!?

Mundo*

U disse...

"Andamos, constantemente, a ajustar os nossos prazos de validade aos das outras pessoas.. e, por vezes, a fazê-las ajustar-se aos nossos. "
Esta frase arrasa tudo!